terça-feira, agosto 01, 2006

emoção em pixels



Ler um livro, ouvir uma música ou ver um filme, são actividades que acabam por despertar, de uma forma parcial ou total, os nossos sentidos e através deles proporcionar constantes mudanças no nosso estado de espírito. Pois bem, jogar um videojogo também consegue, de facto, alterar os nossos níveis de tensão. São muitos os autores que investigam sobre esta temática que por vezes tem vindo a aterrorizar os críticos mais radicais do anti pixel generation que se recusam a tentar compreender o como e o porquê, condenando logo à partida todos os videojogos por tudo e mais alguma coisa. Os autores Nelson Zagalo, Vasco Branco e Anthony Barker, elaboraram um interessante artigo intitulado “Elementos de Emoção no Entretenimento Virtual Interactivo” (que podem ler aqui em formato PDF), onde traçam um paralelismo entre a variação dos níveis de tensão no cinema e nos videojogos. Se “nos media tradicionais, o cinema é hoje conhecido como a arte das emoções” [2004:2], os autores, ao longo das suas investigações, concluíram que os níveis de tensão oferecidos, apesar de não serem iguais, marcam a sua presença em ambos os casos, conseguindo, ainda assim, demonstrar algumas semelhanças. “Após situações de tensão, são sempre oferecidas ou a vitória no caso do jogo ou a resolução intelectual/emocional no caso do filme” [2004:5]. Apesar de diferentes finalidades, tanto num como noutro caso, “a experiência acontece em tempo real”, concluindo que ambos utilizam a incerteza como elemento comum. “No jogo não se dão todas as regras à partida, no filme os eventos são apresentados de forma incompleta fazendo com que as regras e a restante informação dos eventos seja fornecida apenas à medida que o tempo da experiência passa. Durante este tempo a procura de padrões é uma constante comum” [2004:5]. No videojogo, essa procura constante é efectuada não só através da jogabilidade mas também ao nível mental, na medida em que existe todo um processo de negociação entre o jogador e o videojogo, entre o homem e a máquina. No caso do PC, é através do teclado/rato que o jogador consegue interagir - através da jogabilidade - com um determinado título, com uma determinada realidade virtual e daí tentar retirar algo que consiga despertar sentimentos, nem que seja a simples satisfação ou o prazer de conseguir jogar. Aqui convém levantar duas questões: qual a potencialidade do videojogo?; e qual a verdadeira força presente num simples amontoado de pixels?
A simples acção de jogar proporciona realmente mudanças de humor. Existem videojogos que nos despertam um sorriso no rosto, outros que nos remetem para uma suave nostalgia que nos traz à memória recordações da infância. Pac-Man foi o meu caso, bem como Pong
deverá ter sido o caso de muitas outras pessoas. Os pixels, actualmente, conseguem assustar. Existe um grande número de títulos de terror que fazem a pessoa fechar parcialmente os olhos, bem como criar aqueles sustos repentinos muito explorados na década de 80 e 90 no cinema de terror. Autênticos clichés do cinema de terror actual mas verdadeiras experiências inovadoras que os videojogos de hoje em dia conseguem proporcionar. A grande distância que, neste momento, falta ainda percorrer consiste no poder do pixel em fazer o jogador emocionar-se verdadeiramente. Em títulos como Onimusha 3: Demon Siege existe uma clara tentativa em acrescentar à sua história um lado mais "humano" das personagens virtuais, explorando os laços enraizados numa família e num passado atribulado de uma criança que perdeu recentemente a mãe num trágico acidente. Este terceiro título da saga Onimusha apesar de se ter ficado pela simples tentativa, não deixou de mostrar que os videojogos poderão, de facto, aproximar-se ainda mais de outras artes (o cinema mais concretamente), onde com o avanço das tecnologias e com a rápida evolução ao nível gráfico, quem sabe, num futuro breve, cenários e personagens foto-realistas consigam, através da informação que transportam numa totalidade de pixels, fazer-nos soltar a primeira lágrima de verdadeira emoção...