terça-feira, agosto 29, 2006

uma negociação contínua entre jogador e videojogo



É extremamente complicado afirmar que algo é impossível de se fazer numa realidade virtual. Jogar um determinado título poderá levar horas, dias e, em títulos mais complexos, meses a explorar uma totalidade virtual que nos presencia constantemente com momentos de diversão e pura adrenalina (daí a escolha da imagem para este artigo ter sido inevitavelmente uma das espectaculares perseguições de Half-Life 2). Um videojogo, como um produto audiovisual, através da sua poderosa vertente interactiva, consegue-nos absorver num mundo de fantasia que, próximo ou distante da nossa realidade, nos leva a uma constante procura. Certo é, que para quem gosta realmente de jogar e para quem domina minimamente o conhecimento necessário para compreender os conceitos presentes na mecânica do videojogo, dificilmente consegue abstraír-se e/ou distanciar-se do mesmo. O autor José António Ferreira de Almeida (1972), num excelente prefácio elaborado na obra de J. Pijoan sobre História da Arte enaltece uma conclusão que embora pareça óbvia, acaba por passar subentendida na maioria das vezes. Ferreira de Almeida refere que é preciso "ver e compreender para contemplar". Contemplar algo passa obrigatoriamente por interiorizar toda a totalidade informativa, essência, e porque não dizê-lo, estética de um determinado objecto (in)corpóreo, ou uma qualquer obra considerada artística. Talvez o autor não tenha enquadrado o videojogo na sua observação. Em 72, falar em Pong poderia parecer risível ou até mesmo grotesco. Mas hoje em dia, porque não tentar alargar esta ideia para o panorama do videojogo? Num plano virtual, conseguimos interagir, abandonar por breves momento o nosso corpo e atravessar uma pequena janela que nos transporta para o outro lado. Aqui entra o conceito de viagem temporal e espacial (referido, anteriormente, num outro artigo). Existe uma clara virtualização a uma curta distância que ainda hoje não foi possível definir com clareza. O que nos leva a nós gamers a ganhar (ou perder, dependendo do ponto de vista) tempo a jogar? O desafio? A procura? A descoberta? A liberdade? Eu prefiro responder experiência de jogo...
Neal McGann afirma na sua investigação intitulada Watching Games and Playing Movies, que a experiência de jogo é determinada pela jogabilidade. O autor defende que este conceito engloba os elementos importantes de um videojogo (como a interactividade e a imersão) e que desta forma, a experiência que proporciona ao jogador, depende, em grande parte, da sua jogabilidade [2002:8]. Para mim, a experiência de jogo é mais do que a jogabilidade. Um videojogo proporciona uma experiência enriquecedora ao jogador que vai adquirindo um maior conhecimento, por meio dos sentidos, sobre determinada realidade. Essa realidade é apresentada no seu formato digital, num plano virtual e, ao longo da nossa jogabilidade, teremos que conseguir transportá-la novamente para o lado de cá, numa contínua negociação mental entre o nosso potencial como jogador e aquilo que o videojogo nos oferece. A quantidade de informação deverá atingir a sua plenitude quando desafiamos a própria lógica da resolução mental, num plano meramente abstracto e subjectivo que tentamos a todo o momento moldá-lo às nossas exigências. Esta experiência de jogo varia conforme o jogador (e não apenas na sua jogabilidade), que em vez de ditar regras de funcionamento, dita parâmetros de dificuldade numa fase inicial. Antes de avaliarmos um videojogo devemos, antes de mais, avaliar as nossas capacidades mentais e motoras e traçar um objectivo claro e atingível que deverá corresponder numa maior proximidade possível ao grau de dificuldade escolhido. Depois sim, devemos então através da jogabilidade prosseguir uma narrativa interactiva que nos levará a um determinado final. Do início ao fim, existe um longo caminho a percorrer e um desafio constante que a nossa mente procura a todo o custo ultrapassar. O que observamos e o que aprendemos é fruto dos limites da nossa imaginação e da experiência de jogo, que boa ou má, vamos constantemente adquirindo na procura de uma interpretação final correcta do título em causa, a qual esperamos que corresponda total ou, pelo menos, parcialmente às nossas expectativas iniciais...