terça-feira, agosto 22, 2006

a mítica barreira invisivel



Quantas vezes somos transportados para realidades virtuais amplamente vastas num primeiro olhar, mas ao iniciarmos a exploração do mapa propriamente dito, nos deparamos com inexplicáveis barreiras invisíveis que nos impedem de avançar? Os jogadores desafiam constantemente a liberdade no videojogo - os seus limites e as suas condições - em torno do funcionamento da respectiva realidade virtual. Nunca percebi o porquê de apresentarem extensos cenários com caminhos convidativos os quais são impossíveis de penetrar. Contudo, hoje em dia - felizmente - existem inúmeras formas aos programadores de "contornar" esse impedimento. Gonzalo Frasca, num artigo da sua autoria, referiu esta questão da liberdade, tendo baseado o seu estudo em Grand Theft Auto 3 (Rockstar North, 2002). “Elaborei um questionário e distribuí-o pelos meus amigos, pedindo, numa das perguntas, a melhor palavra para descrever GTA3. A resposta foi unânime: liberdade”. Mas se repararmos bem, este tipo de liberdade, ainda assim é muito limitada a um cenário que, embora vasto, acaba por ser fragmentado em diferentes zonas de acesso. Só a conclusão das missões nos permite uma progressão não só na narrativa como também na própria realidade virtual. Neste videojogo, o limite da liberdade encontra-se subentendido numa explicação plausível ao jogador. A barreira invisível é substuída por uma ponte em obras, por um corte na estrada, etc, o que nos impede de atravessar para o outro lado da cidade. O mesmo se passa com Freedom Fighters (IO Interactive, 2003), onde um "amontoado" de carcaças de automóveis, arames farpados e prédios em ruínas nos impedem de seguir nessa direcção. O jogador, apesar de na maioria das vezes não gostar desse tipo de limitações, consegue, ainda assim, aceitar uma orientação forçada no mapa desde que exista uma razão lógica para tal. A liberdade nos videojogos será sempre acompanhada por uma visão utópica e ilusória de uma necessidade que o jogador procura a todo o custo enfrentar. A curiosidade pelo desconhecido acaba por arrasar qualquer tipo de realidade virtual - mesmo que esta tenha uma dimensão consideravelmente extensa - na medida em que não é possível transgredir a barreira (in)visível imposta pelos programadores.
O conceito de liberdade no videojogo foi, é e será sempre alvo de reflexão na medida em que, por muitas alternativas concebidas ao jogador, toda a sua amplitude visual irá encontrar-se sempre restringida aos limites do próprio ecrã do computador, limites esses impossíveis de ultrapassar...