sexta-feira, março 16, 2007

Do pixelizado ao “realismo” *



A evolução dos gráficos pode ser definida – em termos semióticos – através de uma menor ou maior iconicidade. Ferdinand de Saussure, distinguiu, num modo geral, dois tipos de signos: os icónicos (imagem) e os arbitrários (palavra). Dentro dos icónicos evidenciou uma clara variação partindo, sobretudo, da motivação como sendo a característica que estaria na base da sua divisão em categorias. Para Saussure, um desenho é um signo muito menos motivado do que uma fotografia pois a distância que o separa do referente é bem maior. Esta análise torna-se ainda mais interessante quando abordámos os videojogos. Tanto em Pong (1972) como em Top Spin (2005) a presença de referentes da nossa realidade é inegável, contudo, o seu grau de iconicidade varia substancialmente. Se não existisse qualquer tipo de convenções acordadas entre os utentes, a mecânica de Pong jamais poderia ser entendida como a de um jogo de ténis, uma vez que para que o jogador percebesse o videojogo, teria obrigatoriamente que dominar determinadas convenções.
Da “ilustração” convencional de Pong ao ambiente icónico motivado de Top Spin, o jogador é sempre confrontado por uma imensidão de significados que ele próprio retira da sua experiência, numa negociação contínua e numa interacção dependente da sua interpretação e da cultura na qual se insere.
O interessante é verificar que, com a evolução dos videojogos, esse esforço mental por parte do jogador, é cada vez menor...


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* Artigo publicado na revista Mega Score n.º 137 de Fevereiro de 2007, p. 8.
* Próximo artigo intitulado "O Game Designer Que Há Em Nós" na Mega Score nº 138 já nas bancas.