quinta-feira, dezembro 06, 2012

paidia q.b. *



Todos os videojogos operam segundo regras estipuladas pelos seus produtores. Algumas são claras outras nem tanto, mas todas são importantes na forma como limitam as nossas acções no interior do universo do jogo. Contudo, e apesar das limitações, a liberdade é sempre notória e alargada perante o conceito de autoria. King e Krzywinska fazem referência a Grand Theft Auto: Vice City que, apesar de se basear num sistema narrativo linear (missões obrigatórias), convida constantemente o jogador a explorar os veículos e a cidade, sendo livre de construir múltiplas e diferentes narrativas a seu bel-prazer, consoante objectivos influenciados pela sua capacidade imaginativa. O jogador pode circular de mota na areia da praia e atropelar banhistas enquanto foge à polícia. Nesse ponto, o jogador deixa de ser apenas jogador e passa a ser também autor e interpretante da sua narrativa. As regras do jogo mantêm-se mas os nossos objectivos alteram-se. 
Jogamos o “nosso jogo” dentro de Vice City que não deixa de perder a sua individualidade por não impedir o jogador de explorar e criar. É esta a liberdade sem objectivos estipulados que procuramos. Uma busca infinita de alternativas temporárias à acção principal do jogo, que alargue a experiência individual e que sirva de ponto de partida para uma avaliação global do potencial que determinados títulos nos podem oferecer. Por alguma razão é que são poucos os jogadores que não apreciam jogos como GTA, pois todos nós queremos ser co-autores de magníficas obras interactivas. 

__________________ 
 * Artigo publicado na revista Hype! nº06 (Março), 2008, p. 10.