sábado, agosto 26, 2006
a música como desafio cultural
Foi à aproximadamente um ano que experimentei Urban Freestyle Soccer (Silicon Dreams, 2004). Para quem nunca ouviu falar, imaginem um título que se baseia a algo semelhante a futebol de rua. Contudo é preciso salientar que mais do que uma prática desportiva, existe um enorme desafio de golpes sujos possíveis de serem executados à respectiva equipa adversária, ou seja, existe uma liberdade que embora limitada a um pequeno espaço para a prática do futebol, consegue quebrar as barreiras do desportivamente correcto. Fairplay é algo que não existe e mais do que um simples desafio entre duas equipas, é possível ao jogador verificar que se encontra inserido numa autêntica batalha campal entre diferentes micro-sociedades, diferentes culturas e claro está diferentes estilos musicais.
O mais curioso neste título são as escolhas por parte do jogador que, para além dos vários modos de jogo que se encontram disponíveis em Urban Freestyle Soccer, existem outras opções também possíveis, como a escolha da equipa, do campo, etc., o que acaba por traduzir no próprio estilo do jogador, ou melhor, no estilo o qual o jogador se sente mais identificado. Cada equipa tem uma música característica que varia conforme o género musical e que acaba por estar associada ao vestuário e até à própria fisionomia. Desde o Heavy Metal, Pop Rock, Raggae, Hip-Hop, Punk Rock, são inúmeros os estilos musicais presentes neste título. Na altura decidi escolher uma equipa de adolescentes cujo "equipamento" era constituído por T-shirts, calças largas, sapatilhas e gorros. Surpresa a minha quando inicio a partida e me apercebo que a música característica da minha equipa era Go With The Flow dos Queens of the Stone Age - uma das minhas bandas de eleição! Mas será apenas pelo poder da música que me sinta à vontade a jogar com esta equipa? Acontece que por pior ou melhor que fosse em relação às restantes, nunca consegui jogar com outra equipa, ou melhor, com outro estilo musical. Cada partida de futebol é constituída por duas partes e cada uma das partes é preenchida pela faixa musical correspondente à equipa em questão (caso jogasse "em casa" a faixa dos QOTSA seria tocada ao longo de toda a primeira parte). O interessante neste caso consiste em enaltecer a importância que a respectiva banda sonora tem no desenrolar de toda a jogabilidade. Cada vez mais, artistas e bandas consagradas, começam a ter o seu lugar de destaque, da mesma forma como à já alguns anos atrás, o MIDI começou a ser substituído pelo WAVE e MP3. Steven Poole na sua obra Trigger Happy também faz referência a essa evolução, comparando as músicas presentes nos videojogos mais antigos com as dos actuais. Para além dos gráficos, o tipo de música e a sua respectiva qualidade sofreram, também, uma enorme evolução, tendo em conta as placas de som dos PC’s actuais, que ao contrário das placas dos PC’s mais antigos, conseguem trabalhar um maior número de informação, bem como um vasto conjunto de notas e de sons produzidos por instrumentos reais [2000:82-83].
Claro que a análise em torno da banda sonora presente num videojogo é muito mais vasta e aborda outros inúmeros elementos curiosos (os quais tentarei abordar futuramente!). Contudo este artigo baseia-se apenas na interessante experiência que tive com Urban Freestyle Soccer que mais do que um desafio desportivo, é também um confronto de culturas, mentalidades e personalidades influenciadas e moldadas à "imagem" dos diversos estilos musicais...