segunda-feira, agosto 04, 2008
o lado negro do second life
Com uma variedade maior de jogadores, as suas motivações são cada vez mais diversas. Divertir é uma delas, mas vários são os autores que destacam muitas outras conferindo-lhes, em alguns casos, uma maior importância. Rusel DeMaria, na sua obra Reset, fortalece a ideia da aprendizagem mas também alguns aspectos que considero importantes. Segundo o autor "uma das maiores potencialidades resulta na forma como motivam os jogadores a imergir em mundos onde as suas mentes são completamente abertas e prontas a aprender" (2007: 60). Esta interessante ideia, pode, contudo, tornar-se perigosa quando confrontada com outras experiências interactivas.
Apesar da sua já considerável existência, apenas descobri recentemente um pouco mais sobre o Second Life [SL]. Não que já não tivesse experimentado, mas só nas últimas semanas consegui de facto orientar-me através da difícil interface que é apresentada. Difícil é também saber distinguir SL. Com o facilitismo que existe em rotular toda e qualquer experiência videojogável, o que é certo é que SL não se apresenta como um videojogo mas sim como uma ferramenta versátil que procura completar os objectivos de cada utilizador. A minha experiência em SL baseia-se mais na sua observação e não propriamente nas tomadas de decisões necessárias no interior dos seus ambientes virtuais. Procurei sobretudo observar as potencialidades do SL como ferramenta de pesquisa, comunicação e troca de conhecimento. Algo também estranhamente difícil. Fácil é traçar uma imediata analogia com a última obra de Stanley Kubrick (Eyes Wide Shut, 1999). Pessoas reais que escondem as identidades, disfarçando ou deturpando as suas máscaras virtuais, com modificações e/ou transfigurações praticamente infinitas.
A natureza humana encontra-se muitas vezes ligada ao consumo fácil e ao jogo de mistério e sedução proveniente nos vários processos de procura disponibilizados em SL onde tudo se compra e tudo se vende. "Como fazer dinheiro?" foi das perguntas que mais vezes li e locais relacionados com pornografia - a avaliar pela sua interminável lista - são certamente dos mais procurados em SL. É possível pesquisar por "sex" e encontrar uma vasta lista de palavras-chave associadas ao local, sendo "meat" uma das mais sonantes. A sua violência por vezes extrema é apresentada de forma gratuita em locais com uma variedade preocupante e doentia de instrumentos sexuais existentes e disponíveis a quantias inacreditáveis para quem quiser experimentar.
Não deixa de ser irónico remeter este assunto para a inevitável e eterna discussão em torno da violência e do sexo nos videojogos. É preciso lembrar que muitos títulos como Dead Rising, Gears of War ou o recente Grand Theft Auto IV foram, no seu todo ou em parte, proibidos em vários países europeus. Mass Effect, um título também classificado para maiores de idade, foi também duramente criticado por jornalistas e ignorantes na FOX News pelos escassos segundos de supostas cenas de sexo que apresenta. Talvez por isso faça ainda maior sentido voltar a afirmar SL não é visto como um videojogo por ainda se encontrar disponível e gratuito em vários sites na Internet sem qualquer tipo de entrave ou verificação de idade.
É preciso enaltecer que apesar das enormes potencialidades e positivismo que SL possa apresentar em grande parte, existe claramente um lado negativo que assusta. Não o software em si nem as identidades que por lá circulam. O que assusta é o simples facto de não sabermos as verdadeiras intenções ou motivações de quem se esconde por detrás das mais variadas máscaras, nos momentos em que a fantasia ou a diversão tendem a ultrapassar os limites do racional e do minimamente aceitável.
Keep your eyes wide shut.