terça-feira, fevereiro 27, 2007
conferência, feup e... imagem deturpada?
Esta tarde, assisti a uma conferência intitulada "A Facial Animation System for CG Films and Video Games" de Verónica Orvalho (1), organizada pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).
Como espécie de introdução, preciso de mencionar que já em Outubro de 2005 tinha assistido a um workshop de Verónica Orvalho sobre videojogos, tendo, na altura, levantado inúmeras questões à mesma. Apesar de admirar imenso o seu trabalho, creio que existe algum desiquilibrio nas suas investigações. Da parte tecnológica, gosto de ver o progresso das suas experiências na implementação de vários algoritmos com finalidades ambiciosas. Gosto de ver os resultados finais que apresenta e a forma como eles poderão vir a ser essenciais em determinados aspectos da concepção de um videojogo. Ainda assim - e como a própria Verónica se deve recordar (pelas perguntas levantadas no passado workshop) - as suas abordagens teóricas na área do Game Studies acabam por não satisfazer a minha curiosidade, baseando grande parte da sua argumentação em visões de autores muito polémicos.
Desde 2005 que sei que Verónica é uma assídua "defensora" de Chris Crawford, sem dúvida um dos gurus do Game Studies principalmente desde o lançamento da sua obra The Art of Computer Game Design publicada em 1982. Contudo, a minha opinião em relação a esse assunto é clara. A obra foi, sem dúvida, um marco no Game Studies, mas rapidamente se tornou algo obsoleta. Muitos dos temas que Crawford aborda não permitem uma grande amplitude na discussão dos videojogos hoje em dia. O seu racioncínio e a sua escrita condicionam essa mesma discussão. Neste aspecto, eu prefiro de longe as abordagens de Steven Poole na sua obra Trigger Happy (2000) a qual ainda hoje admiro pelo simples facto de Poole, ao longo dos seus textos, não deixar de criticar os videojogos quando tem que criticar, principalmente quando o respectivo tema permite ampliar a discussão para dimensões inesgotáveis.
Sobre a conferência propriamente dita, devo aqui sublinhar, antes de mais, o meu profundo desagrado pela falta de organização e competência transmitida por parte de alguns membros do Corpo Docente da referida Faculdade. Digo isto com toda a franqueza, de uma forma clara, sem rodeios e sem qualquer tipo de mensagem subentendida. Já assisti a várias conferências, palestras e workshops em diversas faculdades e nenhuma delas dificultou tanto o discurso do orador convidado. Antes de Verónica Orvalho começar a discursar, foi apresentada por um Professor do curso de Engenharia Informática que revelou uma falta de conhecimento preocupante. Sobre este aspecto, apenas refiro a forma "engenhosa" como elucidou a audiência sobre as origens de Verónica (Argentina): "Ela é lá das Américas do Sul". COMO DISSE?!
Segundos mais tarde e depois das luzes terem sido desligadas, Verónica pediu a esse mesmo Professor que deixasse pelo menos uma luz acesa no caso dos alunos quererem tirar notas. Mais uma vez, seguiu-se uma afirmação brilhante: "Não te preocupes com isso que estes não vêm para aqui tomar notas...". ESTES?? Então por favor explique-me o que é que "ESTES" vêm para aqui fazer... dormir?
Seguidamente, deu-se então início à palestra com Verónica a apresentar o tema principal da sua tese de investigação que se baseia na implementação de um sistema de transferência de rigging, isto é, através da animação facial de uma personagem ("source model"), saber de que forma era conseguida a transferência e implementação dessa mesma informação em personagens com modelos faciais completamente diferentes ("target models"). A mesma animação para diversas personagens é de facto bem interessante, podendo possibilitar uma alternativa viável que conseguisse a redução de tempo e custos ao longo da concepção de um filme/videojogo.
Mas não deu nem para "aquecer", pois passado poucos minutos uma falha no sistema (portátil e projector) bolqueou a apresentação por inúmeras vezes, tendo acabado por interromper constantemente o raciocínio de Verónica. Foram nestes momentos que mais uma vez o Professor (que não vou dizer o seu nome por pena e não por respeito!) abriu a porta do anfiteatro e gritou para a empregada do respectivo piso para que lhe trouxesse um cabo de ligação diferente. Ridícula a imagem dada. Verónica suspirava e eu também... pelas mesmas razões? Possivelmente! Mais de vinte minutos passaram até que tudo foi minimamente resolvido. Nesse momento o Professor vira-se para a inquieta audiência e profere a melhor afirmação da tarde: "Peço desculpa à audiência, mas vocês já sabem como é o material da Faculdade!". SABEMOS?? Olhe que eu não fazia a menor ideia da porcaria de material que tinham nas vossas instalações. Ouço-vos todos os dias a falar das vossas exigências competitivas, da vossa tecnologia de ponta, dos vossos alunos que trabalham na Microsoft e nem conseguem sequer oferecer o mínimo de requisitos necessários para uma conferência que infelizmente não serviu para criar um ambiente de discussão que incidisse nos temas centrais da investigação de Verónica Orvalho.
Tenho pena, muita pena mesmo... do Professor, da Faculdade, da Verónica e da sua conferência, que tinha tudo para ser interessante mas que por incompetências graves e atitudes pouco correctas, levou-me a sair das instalações com uma péssima imagem acerca dos elementos "espaço" e "tecnologia de ponta", com os quais todos os dias a FEUP tão vaidosamente se gaba!
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(1) Master in Video Game Development pela Universidade Pompeu Fabra (Barcelona) e Ph.D in Software (Computer Graphics) pela Universidade Politénica (Catalunha).